segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

canso-me demais fora da poesia
a tranquilidade sacia-me sem palavras as palavras redobram-me em esforços de me saber real
canso-me e descanso em simultâneo
recrio outra história sem incansavelmente me desapaixonar
viajo em dor e respiro-me em paz protegida pelo arco das palavras

em poesia

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

desfaço-me em retalhos meus
deixo-me ir à deriva conhecendo de cor cada bocado de mar que me embala
não sou acasos ou acessos de fraqueza
sou consistência, luta fervorosa por uma só existência sem cinzas e restos de tecido de um passado tão tatuado na minha pele coberta por roupas quentes de inverno

sou muito enquanto me encontro devagar
amo em restos furtivos de encontros perfeitos
despeço-me sem pressas contra uma parede onde desenho finalmente o meu perfil sem que a mão me trema

de saudade

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

cantos de pássaros uivam nas memórias
embalo-as como um filho
esqueço regras e tenho nas mãos o cair infinito em negro e sombras doces

não sofro em demasia
sofro encantada de ti

terça-feira, 16 de novembro de 2010

tenho um arco de cristal na mão
e sei o ponto certo de estilhaços
o ponto certo do veludo
o ponto certo do coração em sangue

sou indesistível nos silêncios
nos cantares e cânticos religiosos

na memória

sou ponte se não souber ser rio ou margens sólidas
sou mais que uma solidão
sou pontos que se unem dolentes na mudança

sou o amor o amor o amor o amor
um livro inteiro escrito à noite entre dedos, roupa suja, encontros dourados
um livro de cabeceira

conto-me uma história e espero por um fim em forma de papel creme

quinta-feira, 24 de junho de 2010

escondo os tesouros dentro desta caixa em que transformei o meu caminho habitual
em que lentamente te transformo sem presença
e sem contar dias ou minutos finjo que estes gestos te chegam com a forma antiga e imutável
amo-te sem outros voos sem filmes antigos ou contos de fadas
amo-te no toque vulgar
no sofá vermelho ao fim do dia
amo-te em dimensões espelhadas
em histórias repetidas e reescritas com tinta branca
amo a memória a saudade o desejo e amo palavras antigas
amo as músicas que não existem novas dedicatórias a lápis inscritas sem dor na pele cansada
nos olhos que fecham devagar em viagem

terça-feira, 6 de abril de 2010

tenho a tua pele na memória como um vulcão de amor e a tempestade dolorosa de uma instável ponte um rio de lava um imaginário constante de ti e o teu nome o teu nome o teu nome e o silêncio que discretamente é mesmo a verdade

tenho o corpo dormente de nós

terça-feira, 30 de março de 2010

Tenho o meu poema na linha do teu perfil e as palavras são tinta diluída no toque
no amor reescrito
na ânsia de encontros incansáveis

és o poema que me envenena o coração
tenho na mão as letras inúteis
no beijo a arte poética necessária

não quero a poesia enquanto o poema for arma contra o corpo desistente
sou encantamento
dias reais
pele em dias cadentes e tremor feliz

inebrio-me de ti para que a tua imagem não me deixe os gestos soltos
moldo o amor à linha do meu corpo para que não me transcenda e para que ainda assim me encontres no escuro de uma noite banal

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

tenho na pele o cheiro tão real da cadência de uma noite insólita e feliz
tenho em mim os segredos do amor do descanso do medo tranquilo
da irreal história sem páginas rasgadas, de uma euforia sem limites nem equilíbrio
sem regras ou paixão reencontrada, sem limites nem portas nem oceanos
só notas musicais, peles novas, casas desenhadas e encontros desesperados

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

passei a primeira porta
e guardo agora a chave como relíquia
sem esforço, dentro destas notas musicais

domingo, 17 de janeiro de 2010

tenho-te em tamanha fantasia
segredos paredes meias com a pele real

tenho a tua voz como uma poesia
uma pedra sem contornos no lugar quotidiano
sou mais eu no corpo embalado de imaginação
desenho o teu perfil no lençol frio
amo as formas, o silêncio, a ânsia de te encontrar no caminho
amo as palavras insensatas
o amor desiquilibrado em êxtase e incompreensão

tenho-te como meu nas horas e nos cafés solitários
na chuva imperfeita, na casa abandonada de esperança
nesta luz improvável de nunca seres menos sangue que o meu

tenho-te como poesia
porta fechada
manhã antes de acordar
música
pele
filmes antigos
ruas desertas
vidros húmidos
luz fraca
encantamento
outros dias como este
um diário esquecido sem chave

um segredo que me cai das mãos na esperança que o vejas no teu caminho remendado
horas nossas
água quente
uma dança inusitada
uma viagem sem tempo
uma história infantil
um sofá
uma noite e dentro dela um só corpo apaixonado

sábado, 16 de janeiro de 2010

tive a porta aberta e do outro lado a luz azul incandescente
e preferi, devagar e sem dor, desenhar uma teia de arame que te encante e aprisione só mais um dia

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

vejo a chuva que me enfeita os passos numa passadeira de veludo


sou estátua luminosa enquanto for pedra no teu quotidiano mecânico
e pétala de rosa na imagem irreal dos meus dias solitários

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

visto o meu fato de viajante e deixo-me à solta noutras histórias

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

tenho frio dentro dos ossos


e a dura sensação de ter perdido a pele noutra paragem que não esta onde me abrigo da chuva

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

estou entre dois vidros partidos de contornos desiquilibrados
um mar alto em tempestade, desalinhado
ambíguas vigas de metal, jangada e dor cinzenta
tenho o corpo numa massa cansada
tecidos rasgados com janelas para o frio


e, no lugar do coração, uma tocha incansável de fogo e cânticos apaixonados

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

encontro-me sem paz
insistente e sem perder a força dos meus dedos delicados e com mil anos de histórias reais

escolho o abismo

e prefiro pela primeira vez o indecifrado código de um corpo vivo ao conforto das penas e desgostos

reeinvento-me e estico a verdade até já nada existir de concreto ou compreensível
sou maior enquanto me descobrir segura dentro da palma da tua mão

domingo, 10 de janeiro de 2010

pinto-te de branco numa tela em dia de nevoeiro

ninguém nos sabe

só a minha mão que sente a textura do quadro
com pudor de te imaginar a cores ou desalinhado
és a música que me ensinas em pecado e fantasia
um outro estar em terra alheia, uma confissão e uma pérola no caminho atormentado

sábado, 9 de janeiro de 2010

passei parte desta noite que me foi mais forte que a minha coragem de viver a moldar o teu perfil e a torná-lo parte dos meus olhos para que nunca mais a minha vida te seja um caderno em branco


quero-te mais do que palavras, quero o teu barro como terra solta nas solas doces dos meus pés
quero as histórias sussurradas ao ouvido antes da lua cheia
quero a lua cheia nas estradas desertas
e uma dança, só uma, na sintonia perfeita entre o meu sono e o teu acordar no outro canto do mundo

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

cristalizo-te para que não me escorras das mãos

e com o diamante que te invento faço um coração e gravo em caracteres inventados uma história de amor

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

deixo a mão no fogo só o tempo de a pele dizer sem medo que prefere os lençóis de cetim à vida e ao sangue a ferver dentro das veias

sou ainda indesistível

um monstro que cabe dentro de todas as paredes e de todas as verdades
tenho o amor como uma caixa fechada, um som claro de loiça partida e um chão sem toque de pó ou amargura
sou o quadro branco e a parede branca e a tinta em pó guardada sem melancolia numa caixa

preservo o arco poético que me protege das bombas e da guerra que não é minha
espero em frente à lareira e ao fogo quente
espero sem esperança que as estradas dancem mais uma vez noutra direcção
que as minhas mãos regressem ao meu corpo com a boa notícia de uma respiração que acorda só depois de todos os sinos terem cantado a alvorada

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Tenho o corpo retalhado entre as tuas mãos e o rio selvagem que corre na minha janela
sou um bailado quente a ecoar ao som de palavras e marionetas que cantam o fim como uma canção de amor

no final do dia invento uma cama sem pés e construo um palácio irreal de penas e algodão para deitar cada um dos teus silêncios e transformá-los em poema

tenho o corpo sem amarras e a alma à desgarrada e em êxtase
não sou a minha vontade, sou a paixão desajustada e desafinada em noites de chuva
sou pouco mais do que o mundo todo em pérola sem futuro ou esperança
sorriso tímido, a verdade fechada na palma da mão sem liberdade
prisioneira sem mágoa
melancolia e laivos tímidos de poesia
um outro dia sem mais que dizer do que o teu perfil a caminho de outra estrada

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sou árvore e nunca quis ser madeira ou vento que não os meus próprios engenhos e fantasmas, em queda e luz nos olhos solitários