terça-feira, 28 de abril de 2009

quero só mais uma ponte entre o hoje e o dia em que passo esta magia para as tuas mãos
e então posso esquecer esta faca que me molda ao chão quente
e posso então partir, sem rancor de não me veres adormecer debaixo da tua janela

desfaço as palavras
em cantos de cadernos escritos

e peço-te que me peças para desistir
e não deixes que esta luta de gigantes me faça quebrar antes de ser hora

domingo, 26 de abril de 2009

auto-retrato com o teu nome

crio montanhas de histórias irreais
agarro-me no limite do precipício a certezas vagas e suicidas
falho a beleza e o encanto
o futuro de rios são desertos cantados em vozes tremidas

amo-te

desenho-te incansavelmente sem saturar os traços, desespero a pele de te chamar em noites sem sono nem verdade e quando o ar finalmente falta desisto e recomeço a inconstante contagem decrescente mais uma vez

arrisco a sanidade pela dúvida, pela margem esbatida da hipótese
dispo-me de adjectivos e espelhos
sou crua e transparente, invisível e pulsante
sou indesistível

amo tendo a loucura da solidão como uma bandeira
algo de doce pode sair ainda dos meus poros
quando a poesia te escorrega para as mãos antes de saberes a que sabe esta terra que te invento

sou outro mundo
outra casa desabitada e em construção
sou a raiva real e a princesa irreal de outro reino
sou palavras secas e ainda por nascer
sou uma tempestade que se esconde dentro do caderno de capa escura em esplanadas luminosas

sou a angústia do nada perdida nestas ruas crueis e quentes

sou o silêncio
o desespero
o livro em branco

sou uma asa desmaiada depois da Primavera
Amo violentamente e sozinha
como quem beija o vidro frio que me invadiu o lugar do coração
sem ousadia ou desesperança
cabes inteiro numa caixa de vidros intocáveis, na estrada de algodão
num livro já escrito em que descanso a ânsia de ser mais forte e mais corpo
na casa vazia de paredes brancas sem manchas de dor ou tabaco
cabes inteiro na minha mão quando à deriva não encontro cais que me transporte para terra

serás mais uma mão tranquila quando de todas as alvoradas sobrarem poucas no cansaço da memória

sábado, 25 de abril de 2009

desconheço as armas desta guerra feroz
transformo-te em borboletas e em vão deixo-te sair

sinto que falhei o momento em que gigante te devia ter derrotado
sou pouco mais que esta falha neste morno anoitecer
e sou luz de mim e de outras noites, sou pequena e em cada espaço de mim sou maior do que um planeta

abandono-me em leves arrependimentos, em cores de primavera
e sou mais leve que o nevoeiro que me engana no leito do rio

quinta-feira, 23 de abril de 2009

no muro desenho-te, reconheço mais qualquer espaço em branco que não o que me escreve nas noites gélidas de marfim

ombros que descaem em cadência
anos arrebatados de renascimentos e glórias
amo deliciosamente esgotada e sem calos nem memórias

uma canção e uma estrada com um combóio que a mortifica
cabelo abandonado na esquina chuvosa

solidão que canta mais alto que o vinil, que ilude as passarolas voadoras do meu desejo
amava-te mais e se pudesse embrulhava-te em papéis quentes para que as letras derretessem e o silêncio fosse então nosso irmão

então a história seria contada com as tuas palavras douradas
no espaço entre ti e esta casa está um muro de folhas por escrever em constante suicídio

segunda-feira, 20 de abril de 2009

És um parasita nas peles desassossegadas deste meu leito de descanso inalcansável
desequilibro-me e não tenho chão que me proteja da queda aparatosa
o espetáculo da dor ilumina-me e deixa-me estática
esqueci o caminho, o amor, os toques mágicos que me trouxeram aqui
sou tu na tristeza e apagamento do meu sol
recupero-te e vejo se ainda há tempo de te esquecer

domingo, 19 de abril de 2009

Escrevia-te

mas demoro demais a encaixar a tua imagem
e, no fim, fica sempre um espaço de tempestade
É só mais uma canção desesperada
Pinto o quadro da timidez e da certeza de que o peito se esqueceu do caminho de volta, deixo as palavras num canto esquecido do papel. Mas não quebro, recomeço. Mas sem túlipas murchas na entrada e cantos de pó amarelecidos. Recomeço sem o abandono, sem o esquecimento das flores apaixonadas no vão da escada. Sem falsos sonhos num acordar doente. Acordo com o som da verdade escrito na pele, com a outra parte de mim desenhada num papel branco. Com a dor do abandono prematuro, do silêncio vigiado.

Não termino nada, recomeço só com a calma de não perder nada e de ter no centro da poesia o inexistente, a manhã de verão, a música doce e violinada, a comida redesenhada num prato de loiça, o filme sem história nas noites de insónia.

Fica a solidão como arma de sobrevivente. Como chave de outro cofre. Como outro vaso de ervas doces. Como memórias assassinadas antes de terem tempo de contar uma história de amor. Solidão de ouro e trevas, luz e amanhecer, calor líquido no corpo nu, força inusitada.

Fica o silêncio.

E o vento que já não espera antes de destruir nova cidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

rebento os braços de te virar para mim
peço que me deixes ao menos abandonar-me ao teu esquecimento
e deixa de me encantar as noites e o cansaço
e desaparece dos meus contornos e da sombra de cada um dos meus passos
e quando for novamente manhã deixa que os teus sons tenham finalmente adormecido
lanço uma canção desesperada e um solo de violinos para que me deixes sozinha na dança deste esquecimento prematuro
e silencio-me no teu próprio silêncio, antes de me desequilibrar cedo demais

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Na beira do inverosímil lanço frases soltas para que me oiças
para que adivinhes por baixo do nevoeiro da poesia
é a verdade em forma de sangue e timidez, em paz inventada e casas ruídas
tangentes de amor e sono inventadas à pressa num guardanapo de café

restos de pureza

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Desfaço-me em pó
E nos tectos altos da ausência
Tomo lentamente o poder das paredes e escureço a vista da janela
Sou invisível por paixão
Tenho nas mãos a solidão como uma arma

terça-feira, 14 de abril de 2009

dedicatória

sou chão de veludo e silêncio, cheiro a mar, a palavras entrelaçadas
o som da tua voz no centro da paz e da poesia
escavo na água do rio o lugar certo do encontro e o descanso dos ossos estilhaçados, do frio suicida dos dias. encontro a casa e desfaço na fogueira restos de cansaços, dor e palavras doentes.

e renasço com a solidão de uma estrada fria a soletrar-me palavras felizes

sou mais sozinha
e o teu cheiro impregna-me tecidos viajados

pinto na parede vazia a tua presença e nesta noite conheço-te, um segundo antes de te deixar partir, líquido, pelas paredes pintadas de fresco
dispo-me de desertos e cansaços e vejo em cada acordar um planeta que nunca escrevi
desisti porque a vida reside no meu canto mais escuro e esquecido, abro-lhe as cortinas e deixo entrar o passado sem emendas nem remorso
e sou sozinha em castelos de areia em dia de tempestade
e heroicamente escrevo o teu nome na areia húmida de tragédia e destroços
e deixo o sol reconstruir vagas de humanidade em cada um dos meus dedos entrelaçados

domingo, 12 de abril de 2009

desisto

sobre a toalha branca reescrevo a mentira e viro-me as costas

sábado, 11 de abril de 2009

não me peças páginas escritas, pede-me antes uma espera sem hesitações
pedra em estado puro no lugar do sangue que antes pulsava nos poros
entrelaçar dúvidas nas tuas pernas no minuto antes de acordares
medo talhado na timidez à beira do precipício dos teus braços
noites agudas e irreais onde a paixão conta histórias impossíveis
sei de cor a tua beleza, os traços que te invento quando já não tenho mais mãos que te encontrem

sexta-feira, 10 de abril de 2009

cansada de rupturas com o meu chão pinto a casa das cores da tua voz que ainda ecoa no meu dia sem final

canso-me de mim

desbloqueio as veias e deixo-te entrar

quinta-feira, 9 de abril de 2009

todo o silêncio de algodão dentro do desmaiado dos teus olhos
e aí tudo é só teclas de um piano e harmonias sem dor nem tempo
e no veludo da tua pele desconhecida escrevo só mais um poema antes de ser feliz

sexta-feira, 3 de abril de 2009

seja qual for a frase que ela te tenha a ti dentro do som baixo desta música desafinada
esqueço a minha loucura só hoje e se no cansaço a cor for a dos teus passos prendo-os ao chão e desato o nó que me liga a casa
desespero por outras estradas
pelo toque da tua voz