quarta-feira, 17 de junho de 2009

tenho peixes em vez de voz e um mar no lugar do coração
vivo no silêncio como quem desenha uma macia estátua de argila
sem pressa nem fogo de artifício, com amor à forma de poema que a terra cria sem dor
com a pele suspensa como seda em brisa de verão
tangente de luz e promessas de alfazema
com o pecado atravessado como brasas quase desmaiadas em final de noite

são linhas de ouro que no escuro sem cor ou paixão se tornam cordas de caixas velhas
são fantasia
imaginação
dolência na tarde que escorre e reinventa as horas
são um ponto de interrogação como bomba no não dito
são o real da fruta pisada e esquecida no cimo da mesa, do sol que nunca se esquece de adormecer e tapar falhas do corpo com a frescura da noite

tenho as tuas mãos nos meus olhos e sou só cheiro, fumo e incompreensíveis poemas recitados quase de cor
intuidos no som da tua voz, na palma quente da tua mão, no real do amor, das presenças, das músicas encontradas por acaso debaixo do tapete
do sono encaixado em si e no que ainda não vejo, mas que pressinto no arrastar dos dias
na angústia da distância, na paz destruída por borboletas pulsantes de água fresca

no ter-te aqui, debaixo da pele doente de fantasmas

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