É só mais uma canção desesperada
Pinto o quadro da timidez e da certeza de que o peito se esqueceu do caminho de volta, deixo as palavras num canto esquecido do papel. Mas não quebro, recomeço. Mas sem túlipas murchas na entrada e cantos de pó amarelecidos. Recomeço sem o abandono, sem o esquecimento das flores apaixonadas no vão da escada. Sem falsos sonhos num acordar doente. Acordo com o som da verdade escrito na pele, com a outra parte de mim desenhada num papel branco. Com a dor do abandono prematuro, do silêncio vigiado.
Não termino nada, recomeço só com a calma de não perder nada e de ter no centro da poesia o inexistente, a manhã de verão, a música doce e violinada, a comida redesenhada num prato de loiça, o filme sem história nas noites de insónia.
Fica a solidão como arma de sobrevivente. Como chave de outro cofre. Como outro vaso de ervas doces. Como memórias assassinadas antes de terem tempo de contar uma história de amor. Solidão de ouro e trevas, luz e amanhecer, calor líquido no corpo nu, força inusitada.
Fica o silêncio.
E o vento que já não espera antes de destruir nova cidade.
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