não posso mais aguentar o corpo em desalinho
as ondas quentes do cansaço
acabo onde comecei cada ciclo de flores, os ciclos que me embalam e desesperam
me fazem inventar candeeiros de luz baixa para esquecer de vez a solidão
quero disparar teias da pontas dos dedos e envolver cada canto deste dia, encostá-lo ao peito e fazê-lo contar histórias com finais luminosos que quase não conheço
quero ser uma flor e espreguiçar-me ao sol e ficar com a marca do meu toque no ar que te desenha o perfil
quero esquecer
ultrapassar dias
desenhar outro risco por cima
apagar as horas que te dei
esquecer sons, autocarros, colchões velhos, couves e bolos embalados
quero molhar a pele e ver as memórias pela terra
quero ver de outra cor esta janela imaginá-la limpa das marcas dos teus dedos
quero olhar para este papel envelhecido e escrever palavras incorrectas e imaturas
rir com o absurdo do amor, ver velhas histórias em cada toque e amar o cheiro a novo
arriscar o não dito e transformá-lo em frases inauditas
ver mais do que o papel ver um colo onde adormecer ao fim do dia
ver o animal cansado que tanto rugiu de atordoado
ver mesmo o silêncio, amá-lo por me tocar na pele na dormência do comboio do fim do dia
ser mais do que qualquer outra vez, luminosa enfrentar as rotinas das mãos e das palavras
amar o pó que nunca nos abandona a cabeceira
criar mais história, mais fotos sem legenda, mais lã num dia frio
reinventar a solidão
sem dor ou qualquer outra mágoa
contruir palácios inteiros na palma da minha mão
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1 comentário:
e vai acontecer...
vai acontecer...
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