vejo caras coreografadas e caio do abismo
sinto os ramos histéricos na queda, transformo-os em casas cor de amêndoa e madeira
nada será uma pergunta enquanto o corpo magro for peça de museu antigo
só sensações, mais nada.
Vazio melancolia criadora
quadro de nova paixão, calor inesperado pela frase banal, paixão e amor inesperado, casa inesperada e cansaço mortal nos ossos novos.
Quando já não souber de mim afasto os demónios. Agora só posso adormecer com a casca áspera do medo presa ao sono que já não existe. Abraçar a sensação febril que ainda me fala no silêncio da penetrante solidão.
Guardo abraços e cânticos em praias ventosas.
E digo Amo-te sem destino e vejo verdadeiras revoluções e festas hilariantes à beira do mar ruas de todos e amor desperdiçado num olhar nervoso.
És a dor e a esperança. A cor vaga de um futuro traçado no alpendre. Não me esforço mais. Acabou, a pele não consegue mais resistir aos ramos. Fica desmaiada no chão. Dorme finalmente. Quase morre, um instante antes de acordar.
segunda-feira, 30 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009
outro dia um
Com Lluis Llac entrei pela cidade e deixei ferver as palavras invasivas de sentido pelas ruas de Lisboa
engoli o ar sujo e o sol de quase trovoada que nos prende a respiração e nos deixa sedentos de solidão
vi na minha pele a solidão de poder ser sozinha em todas as pedras da calçada
e a voz fez o encantamento de cantar em voz alta a única verdade que me é mais do que as dores dos ossos cansados de mentiras e silêncios
e a cidade fui eu, e o castelo com olhos de sono, e os sorrisos amigos ao fim da rua, e as coreografias improvisadas ao som de vozes desafinadas pouco depois de nascer o dia
e a tempestade era magia e palmas entusiasmadas e poemas lidos e copos de vinho
e promessas
certezas de que o dia só nasce quando aceno com a cabeça e me preparo para acordar do meu suicídio de meses. sou criança que descobre as palavras. e escreve tudo de novo. e lança na tarde quente a energia que o peito não suporta. e a voz cansada adormece agora, ansiosa por novas linhas e peças de teatro. novas outras histórias.
engoli o ar sujo e o sol de quase trovoada que nos prende a respiração e nos deixa sedentos de solidão
vi na minha pele a solidão de poder ser sozinha em todas as pedras da calçada
e a voz fez o encantamento de cantar em voz alta a única verdade que me é mais do que as dores dos ossos cansados de mentiras e silêncios
e a cidade fui eu, e o castelo com olhos de sono, e os sorrisos amigos ao fim da rua, e as coreografias improvisadas ao som de vozes desafinadas pouco depois de nascer o dia
e a tempestade era magia e palmas entusiasmadas e poemas lidos e copos de vinho
e promessas
certezas de que o dia só nasce quando aceno com a cabeça e me preparo para acordar do meu suicídio de meses. sou criança que descobre as palavras. e escreve tudo de novo. e lança na tarde quente a energia que o peito não suporta. e a voz cansada adormece agora, ansiosa por novas linhas e peças de teatro. novas outras histórias.
terça-feira, 24 de março de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
dia dois
tremo diante destas horas e deste relógio sonoro
é real cada ferida do ponteiro dos segundos, é meu este dia, e a noite inquieta e o comboio de manhã
é real o silêncio. moldo-o aos dias e sufoco com a pele a ânsia de outras manhãs, de uma luz diferente, de um relógio invertido. calo a constante tempestade. transformo este fingimento em arma e renasço luminosa. sou amor e cânticos. paixão em palavras e veludos em forma de cortinas.
sou sozinha
tenho assim nas mãos o mundo inteiro. e amo-te porque no relógio invertido as horas dançaram a valsa mais uma vez.
é real cada ferida do ponteiro dos segundos, é meu este dia, e a noite inquieta e o comboio de manhã
é real o silêncio. moldo-o aos dias e sufoco com a pele a ânsia de outras manhãs, de uma luz diferente, de um relógio invertido. calo a constante tempestade. transformo este fingimento em arma e renasço luminosa. sou amor e cânticos. paixão em palavras e veludos em forma de cortinas.
sou sozinha
tenho assim nas mãos o mundo inteiro. e amo-te porque no relógio invertido as horas dançaram a valsa mais uma vez.
dia um
experimento o silêncio e oiço o tigre silenciado
volta e recupera o trono de veludo onde é rei dos meus medos que já não sei cantar
construo a minha jaula e prendo fios na ponta dos dedos
danço passos decorados e guardo para a solidão a verdade e deixo escamar a tinta até já só haver sangue teimoso dentro das veias
adormeço sem sons ou lamentos cansada de paz e vida real, procuro o meu quintal de um só sofá e deixo-me envelhecer só hoje, entre as árvores quase silenciosas
e esqueço. calo a verdade. deixo de a ouvir. passo a viver na corda presa nas árvores e faço do equilíbrio o único alimento.
volta e recupera o trono de veludo onde é rei dos meus medos que já não sei cantar
construo a minha jaula e prendo fios na ponta dos dedos
danço passos decorados e guardo para a solidão a verdade e deixo escamar a tinta até já só haver sangue teimoso dentro das veias
adormeço sem sons ou lamentos cansada de paz e vida real, procuro o meu quintal de um só sofá e deixo-me envelhecer só hoje, entre as árvores quase silenciosas
e esqueço. calo a verdade. deixo de a ouvir. passo a viver na corda presa nas árvores e faço do equilíbrio o único alimento.
quinta-feira, 19 de março de 2009
não posso mais aguentar o corpo em desalinho
as ondas quentes do cansaço
acabo onde comecei cada ciclo de flores, os ciclos que me embalam e desesperam
me fazem inventar candeeiros de luz baixa para esquecer de vez a solidão
quero disparar teias da pontas dos dedos e envolver cada canto deste dia, encostá-lo ao peito e fazê-lo contar histórias com finais luminosos que quase não conheço
quero ser uma flor e espreguiçar-me ao sol e ficar com a marca do meu toque no ar que te desenha o perfil
quero esquecer
ultrapassar dias
desenhar outro risco por cima
apagar as horas que te dei
esquecer sons, autocarros, colchões velhos, couves e bolos embalados
quero molhar a pele e ver as memórias pela terra
quero ver de outra cor esta janela imaginá-la limpa das marcas dos teus dedos
quero olhar para este papel envelhecido e escrever palavras incorrectas e imaturas
rir com o absurdo do amor, ver velhas histórias em cada toque e amar o cheiro a novo
arriscar o não dito e transformá-lo em frases inauditas
ver mais do que o papel ver um colo onde adormecer ao fim do dia
ver o animal cansado que tanto rugiu de atordoado
ver mesmo o silêncio, amá-lo por me tocar na pele na dormência do comboio do fim do dia
ser mais do que qualquer outra vez, luminosa enfrentar as rotinas das mãos e das palavras
amar o pó que nunca nos abandona a cabeceira
criar mais história, mais fotos sem legenda, mais lã num dia frio
reinventar a solidão
sem dor ou qualquer outra mágoa
contruir palácios inteiros na palma da minha mão
as ondas quentes do cansaço
acabo onde comecei cada ciclo de flores, os ciclos que me embalam e desesperam
me fazem inventar candeeiros de luz baixa para esquecer de vez a solidão
quero disparar teias da pontas dos dedos e envolver cada canto deste dia, encostá-lo ao peito e fazê-lo contar histórias com finais luminosos que quase não conheço
quero ser uma flor e espreguiçar-me ao sol e ficar com a marca do meu toque no ar que te desenha o perfil
quero esquecer
ultrapassar dias
desenhar outro risco por cima
apagar as horas que te dei
esquecer sons, autocarros, colchões velhos, couves e bolos embalados
quero molhar a pele e ver as memórias pela terra
quero ver de outra cor esta janela imaginá-la limpa das marcas dos teus dedos
quero olhar para este papel envelhecido e escrever palavras incorrectas e imaturas
rir com o absurdo do amor, ver velhas histórias em cada toque e amar o cheiro a novo
arriscar o não dito e transformá-lo em frases inauditas
ver mais do que o papel ver um colo onde adormecer ao fim do dia
ver o animal cansado que tanto rugiu de atordoado
ver mesmo o silêncio, amá-lo por me tocar na pele na dormência do comboio do fim do dia
ser mais do que qualquer outra vez, luminosa enfrentar as rotinas das mãos e das palavras
amar o pó que nunca nos abandona a cabeceira
criar mais história, mais fotos sem legenda, mais lã num dia frio
reinventar a solidão
sem dor ou qualquer outra mágoa
contruir palácios inteiros na palma da minha mão
terça-feira, 17 de março de 2009
deixa-me sair da tua teia viver o vento como um corpo nu tomar conta dos meus segundos de glória
esticar o mais dolente dos sorrisos, deixá-lo no ar até que já nada o alimente até que a última luz tenha sido apagada e em vão alguém o tente descobrir entre o nevoeiro da mais negra escuridão
quero saber de cor a que sabe a minha dor, soletrá-la de olhos fechados, queimá-la devagar na lareira enquanto te transformo nas palavras que te escrevo, até que sejas mesmo luz e veludo no passeio
liberta-me deixa-me respirar e não te encontrar em restos de poeira
esticar o mais dolente dos sorrisos, deixá-lo no ar até que já nada o alimente até que a última luz tenha sido apagada e em vão alguém o tente descobrir entre o nevoeiro da mais negra escuridão
quero saber de cor a que sabe a minha dor, soletrá-la de olhos fechados, queimá-la devagar na lareira enquanto te transformo nas palavras que te escrevo, até que sejas mesmo luz e veludo no passeio
liberta-me deixa-me respirar e não te encontrar em restos de poeira
terça-feira, 3 de março de 2009
é a nossa valsa, com passos cosidos em linhas de ouro branco, uma dança cega, sem sentidos, só ilusões. Um Nada. E quando o Nada me invade de veneno os músculos a dança torna-se mais poderosa e a alegria é cega de limites e contradições. é espuma nos olhos vento na pele despida. sem medo. só calor e a água quase fria na ponta dos pés. sem medo outra vez. só sensações e realidades semânticas. sem palmas nem luzes artificiais, só o sol preso no fim do dia.
fios que quase se partem. que ironizam as noites que sobrevivem. que continuam a dança como se fosse sempre a última vez que se entendiam e inflamavam.
quase o fim
fios que quase se partem. que ironizam as noites que sobrevivem. que continuam a dança como se fosse sempre a última vez que se entendiam e inflamavam.
quase o fim
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